com os dentes cravados na memória
soletro teu nome
c a b o f r i o
barco bêbado naufragado
fora do teu cais
caminho marítimo
por onde talvez
já passou meu pai
(a.g.)
Artur Gomes – Como se processa o seu estado de poesia?
José Facury – Chegam as palavras com uma certa musicalidade que me envolve e o conflito vai surgindo entre o “eu” realista e o “eu” lirico como em um picadeiro de rimas, gags e quiprocós.
Artur Gomes – Seu poema preferido?
José Facury – Todo o texto lírico dramatúrgico do “O Ultimo Brincante”, mesmo não sendo nem perto de um Suassuna e muito longe de um Patativa do Assaré
Artur Gomes – Qual o seu poeta de cabeceira?
José Facury – Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Nauro Machado e muitos, muitos outros inclusive você, Mano, Jiddu…
Artur Gomes – Em seu instante de criação existe alguma pedra de toque, algo que o impulsione para escrever?
José Facury – A música e a rima sempre, mesmo eu querendo delas me livrar.
Artur Gomes – Livro que considera definitivo?
José Facurcy – Morte e Vida Severina
Artur Gomes – Além da poesia em verso, já exercitou ou exercita outra forma de linguagem com poesia?
José Facury – Já está respondida na dramaturgia, aliás veio primeiro…
Artur Gomes – Qual poema escreveu quando teve uma pedra no meio do caminho?
José Facury – A MUSA…
A musa inspiradora dos nossos poemas
Nunca será nossa
Nunca dividiremos o mesmo teto
Nunca subtrairemos o mesmo pão
Nunca multiplicaremos a mesma prole
E se a força do desejo for tamanha
Que obrigue o amor platônico a tal desdita
Do teto sucumbirá às desavenças
Do pão, o amargor por tê-lo consumido
E da prole a maldição do ter nascido
A musa inspiradora dos nossos poemas
É para ser eternizada na redoma dos nossos sonhos
A sua melodia é inatingível e a sua rima extremamente rica
Para caber na métrica cartesiana da realidade
Artur Gomes – Revisitando Quintana: você acha que depois dessa crise virótica pandêmica, quem passará e quem passarinho?
José Facury – Passarão os passaralhos e passarinhará para a história os passarelhos…
Artur Gomes – Escrevendo sobre o livro Pátria A(r)mada, o poeta e jornalista Ademir Assunção, afirma que cada poeta tem a sua tribo, de onde ele trás as suas referências. Você de onde vem, qual é a sua tribo?
José Facury – Sou de São Luis, uma terra de poetas, onde um dramaturgo, tanto na récita expressiva quanto na métrica musical, era um mal pior.
Hoje, pertenço a uma tribo poética menos fundamentalista, e mais iconoclasta, onde tudo cabe. Poesia é tudo que reluz no firmamento sistêmico da mediocridade.
Artur Gomes – Nos dias atuais o que é ser um poeta, militante de poesia?
José Facury – É comer o pão que nem o diabo quis amassar, mas que o padeiro da esquina deu um jeito de assar pra quem tem fome de saber comer.
Artur Gomes – Que pergunta não fiz que você gostaria de responder?
José Facury – Por quê eu não desisto de cometer crimes poéticos? Aí, responderia:
Porque sou um flanco atirador de palavras…quem quiser que morra por elas!