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É preciso ficar atento e forte, não temer a morte, acreditar na vida. Acreditar em vida inteligente porque estamos numa era em que tudo está mudando de mãos e porque teria de ser diferente com os livros? Foi essa a sensação que tive quando fui entregar os livros para a Angélica!
Bom, confesso que não estava diante de uma “compradora passiva”, angélica pechinchou os livros até a morte. Para aí, ela poderia ter dito, é a minha grana que está em jogo, então faça esse serviço direito. Traz meus livros de psiquiatria mas vamos pensar em algo mais em conta. Você gosta de trocar? Você gosta de música? Você quer um ingresso para me assistir?
Calmae, Angélica, eu vivo disso pô, você quer o quê, afinal de contas?
Eu quero livros, livros apenas isso… os meus, aqueles que te pedi. Hum, respondi logo, tá bom, mas me fala uma coisa… você gostar de ler? Você tem biblioteca em casa?
Olha eu tenho um montão de trabalho pra fazer na faculdade, me procura nas redes sociais. Ei Angélica, pera, eu to me dando conta de que posso entregar seu pedido e te dar alguns livros. Ótimo então, ao invés de 25 eu te pago 20 e vê aí o que você tem pra me dar. É que eu fico assim, tipo, pensando o quanto é legal doar livros para quem lê de verdade, se é que você me entende…
Claro que o diálogo não aconteceu dessa forma, só estou tentando recriar o momento e dizer que os livros estão circulando bem em Cabo Frio, por baixo da cidade praiana, lenta, modorrenta, há uma multidão de jovens portando livros e isso faz a gente respirar aliviado porque ninguém vive para sempre e é preciso entregar o Brasil ao seu futuro!
Levei até ela uma pilha de livros, acho que foram 10 títulos que incluíam monstros sagrados como Gabriel Garcia Márquez e Dostoiévski. No meio da conversa, ela me conta que canta na noite Cabo-Friense, circula pela cidade com seu repertório criativo e faz um dinheiro assim. Com a grana investe nos estudos e constrói seu futuro. Os livros, se estendem para além de um prazer burguês, é uma necessidade de conhecimento, o bem mais precioso da vida…
A vida tem suas curvas pra cima, pra baixo e pros lados. A realidade nem sempre nos favorece mas o contato com o saber é uma possibilidade de abrir horizontes bem maiores do que nossa vã filosofia. Naquele momento eu percebi que Angélica (esse nome que parece ter cavalgado pelas pradarias e campanas para chegar ao coração do mundo e da alma expressa em seu batismo) constrói sua narrativa a partir de seus sonhos, de seu estar no mundo, do seu caminhar pela vida. Então, e se é assim… vai, Angélica, segue essa estrada e presta atenção, principalmente, na paisagem.
A vida é apenas narrativa, quem lê constrói a sua, quem não lê, fica limitado no horizonte de si mesmo. Claro que isso não é a máxima da vida, as pessoas justificam sua existência de diversas formas, mas quem lê leva uma mensagem para o mundo. É por isso que doar livros para quem lê pode ser, e é, de verdade, um exercício pleno de liberdade. Nós estamos aqui, os livros estão girando na roda da vida e pelas prateleiras e caixas nas casas das pessoas.
Acho que a Angélica carregou alguns tantos para povoar sua imaginação e eu, continuo aqui, atento porque tenho mais duas caixas aqui para doar para leitores atentos, aliás, falando nisso, fecho este artigo com um haicai do Rircardo Silvestrin!
Leitor atento
a primeira página
quem abre é o vento.
(Ricardo S.)
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Adorei as doações!!!!A leitura nós enriquece de todas as formas!!!!
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Obrigado, Angélica, você é uma leitora sensível e criativa. Sucesso na tua carreira musical (Jidduks)