Homenagem a Dalmo Saraiva

Tempo de leitura: 7 minutos

A sensação de perda, na convivência com um poeta do nível de um Dalmo Saraiva, nos dias de hoje, traz tristezas e, também, responsabilidades!

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Não tem como esquecer o poeta Dalmo Saraiva, em que pese sua partida deste planeta, muito novo e, no entanto, com uma vida bem vivida! Ele fazia montanhismo, caminhava pelo mundo. Gostava de viajar. Dia 12 de Novembro, o Festival  Carioca de Poesia, irá celebrar o mias singelo poeta brasileiro das últimas décadas.

Dalmo era uma unanimidade, realmente um “ser de poesia”. Não seguia regras estéticas, a não ser seu jeito de transformar a poesia-palavra em palavra e vida de poeta. Ele foi dessas pessoas que oferecia o o conforto simples de seu apartamento, em Botafogo, para que os artistas tivessem um entreposto para ir aos recitais da zona sul ou até mesmo como ponte para viajar pelo.

Em 2011 fiz esta entrevista com ele, que considero bem atual!

Jidduks – Porque lidar com poesia? Não seria melhor fazer outra coisa? 

Dalmo Saraiva – Poesia? Eu não lido com ela não. Talvez ela é que me instiga… que me maltrata… que me faz chorar de vez em quando… que me faz rir… que me faz irônico… que me deixa perplexo diante da vida… que abusa de mim (esse corpo cansado e suado de tanto rodar o mundo)… O meu amigo Milton Aguiar tem uma frase que eu sempre uso e que acho o máximo: “poesia dá asas mas também dá azia”. E aí? eu gosto mais das asas onde posso voar embora meus textos incomodem um pouco… mas confesso… confesso… deixa prá lá! Hoje ainda não cometi pecados… Lidar com outra coisa? Sim, eu lido com outra coisa mas a outra coisa nunca me dá uma lida. Sim! Faz sentido esta vida sim. Aliás, esta vida não é máximo? Você que lida com ela poeticamente e mimicamente não acha o máximo? Ixe!

Jidduks – Vejo que você tem um certo amor por Antônio Nóbrega, Denise Stoklos, Zé Ramalho. Quem mais?

DS – Rapaz! você consegue deixar meus olhos cheios d’água… espera aí! Deixa eu respirar. Tenho sim, Jiddu! Tenho um amor por Antonio Nóbrega sim… tenho uma profunda admiração pelo trabalho dele e pela pessoa que é. E além de tudo é um grande amigo além de ter sido meu professor. É pena que eu sempre fico em segunda época com grandes professores como ele.

Mas é sempre bom ficar em segunda época para que eu aprenda mais…. Para mim cada espetáculo do Antonio Nóbrega é sempre uma aula. Na verdade
vi todos diversas vezes… acho que o verdadeiro brasileiro deveria conhecer o “Tonheta” e parar de ficar vendo a novela das oito.

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A Denise Stoklos é a essência da essência. É o Teatro Essencial.
Aquele que eu gosto… aquele que busca e faz pensar… O Zé Ramalho? Eu me identifico com o pau de arara… com
o brejeiro… acho ele um profeta e quem ouve “Cidades e Lendas” se remete para distante buscando histórias e estórias… Quem mais? São tantos. O professor Ivan Proença é um deles. Ele é um dos responsáveis pela minha in- vestida no teatro de rua, no texto literário, na poesia, na cultura brasileira, na música regional, na música dos repentistas, nos cantadores. Um outro é o Julinho Pimentel… uma figura extraordinária que me ensinou muitas coisas…

São muitos, Jiddu! São muitos. Até os índios Carajás de Aruanã, em Goiás, me ensinaram e eu fiquei fã deles… Se eu pudesse e não posso, queria encontrar Guimarães Rosa… queria encontrar Euclides da Cunha…. Queria encontrar Mário de Andrade… queria encontrar Câmara Cascudo… são muitos…

Jidduks – Você nasceu lá pras Bandas de Angra dos Reis, estive lá, me pareceu um dos lugares mais bonitos do Brasil, e a Usina Nuclear?

DS –  Sim! Nasci na cidade de Raul Pompéia. Aliás, na cidade não. Nasci no mato. Nasci no município de Lopes Trovão e Brasil dos Reis… Lá é um dos lugares mais bonitos do mundo. É pena que perdeu a característica de cidade colonial. Seus governantes não tiveram a sensibilidade de preservação da história.

Lá ia ser fundada a cidade do Rio de Janeiro. Lá surgiram os primeiros teatros do Brasil. Engraçado! e ninguém sabe mas está nos livros. Com sete ou oito anos fui morar em Tarituba, em Paraty e lá comecei o meu primeiro dia de escola. Paraty está preservada até hoje e a sua história atrai turistas do mundo inteiro e Angra dos Reis está deitada ao lado do Rio do Choro reclamando as mágoas por causa de homens sem raízes. A Usina Nuclear? Aquilo lá é a peste do século XXI. Já participei de diversos movimentos contra aquela praga mas aquele estopim não está cercada só de granadinhas de urânio…

Jidduks – O que acontece nos recitais de poesia, há algum magnetismo?

DS – Magnetismo? Não sei não! Não sou de aço. Sou de pedra. Tenho Saraiva e Rocha no nome e o que é do nome o bicho come.

Jidduks – Dá pra estar de bem com a vida?

DS – De bem com a vida? Não! É a vida que está de bem comigo.

Jiddu, a vida é uma séria brincadeira e a brincadeira da vida é muito séria. Deu para responder? A vida é muito boa, meu caro! Você sabe disso!

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Jidduks – Porque o seu livro se chama “Urubu”? O que você tem contra as garças brancas?

DS – Eu não tenho nada contra as garças brancas não. Eu fundei a Sociedade Protetora dos Urubus.
É um bicho preto da alma pura (se tiver). Eu admiro o seu misterioso olhar e seu vôo… é um dos seres mais ecológico no mundo…

E tem mais: eu queria ele (o livro) todo negro e isso vinha me criando dificuldades a nível financeiro mas a Thereza (Editora da Ibis Libis) falou que isso não  era problema. Acreditei. Eu tenho que acreditar, pois também já andei lá pelo ACRE e tive contatos com os urubus.

É preciso ACRE ditar. Eu ACRE dito.
Mas não é só os urubus que tenho admiração não. Tenho admiração por todos. O nosso humor vem dos macacos e a nossa graça vem da garça. É preciso preservar os homens para que possamos valorizar os animais.

Jidduks – Quem é Dalmo Saraiva por Dalmo Saraiva?

DS – Jiddu! acima de tudo, nos conhecemos há bastante tempo e na verdade não sei muito bem quem eu sou. Ainda estou me procurando e quando penso que me achei, aí, eu escapo de mim mesmo.

Eu participei de um workshop há algum tempo com uma pessoa sensacional que se chama Jorge e numa parte desse evento maravilhoso, cada um vai falar de si. Eu dizia na roda de pessoas (mais ou menos trinta) que eu era dois mas ainda existia um  terceiro… estou delirando? Acredito que não, e até fico chateado comigo mesmo quando me taxam de maluco.

Coisa que não sou…. apenas sou um experimentalista… um ousado… um irrequieto… um ser amigo dos criadores com quem aprendo e descubro uma parte de minha pessoa… essa pessoa que quando criança pulava as cercas dos circos poeiras na minha cidade para assistir as simples cenas dos palhaços pobres materialmente, porém ricos espiritualmente… é isso… e não pode ser aquilo.

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2 Comentários


  1. Que pessoa linda, que criança pura, que poeta profundo, que amigo leal, simples, humilde, verdadeiro! Unanimidade inesquecível! Deve estar rindo de nossa tristeza, enquanto enlouquece seus anjos e pássaros no céu. Imensa saudade de sua poesia, do seu humor ácido e sutil, da sua dignidade humana e poética. Grande perda! Com certeza, está em Luz e em Paz. Grande beijo, amigo. Seu Tanuzinho.

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